Reconhecimento

Mulher de impacto

Executiva da Microsoft, a pelotense Lisiane Lemos milita pelo ingresso de negros no mercado

A pelotense Lisiane Lemos aprendeu a ler sozinha aos cinco anos. Hoje, aos 29, é uma executiva de sucesso na Microsoft e trabalha para inserir cada vez mais negras e negros dentro do mundo corporativo. Apesar de ter conquistado tanta relevância através do esforço particular, não é justo dizer que tudo foi feito por conta própria. Nos bastidores da história de uma das cem pessoas abaixo dos 30 anos que mais fazem a diferença no Brasil, de acordo com a revista Forbes, estão nomes como Rosemar, Maria Celina, Eva, Claudinei e Renan.

Lisiane, hoje executiva de vendas de tecnologia na multinacional, cursou Direito na Universidade Federal de Pelotas (UFPel). A vaga foi conquistada com muito estudo, esforço e trabalho: para ter mais chances na disputa, entrou em escola particular através de bolsa que conquistou trabalhando no próprio local. O período de formação contou ainda com atuação na ONG Aiesec, como parte de um plano cujo objetivo era estar exatamente onde está hoje: em posição de liderança dentro de uma grande corporação. “Ali resolvi mudar uma visão de professora - espelhada no exemplo das grandes mestras que minha família tem - para ser uma vendedora.”

Sem nunca esquecer, porém, dos casos de preconceito racial que teimavam em a acompanhar. Foi a partir dessas experiências, boa parte delas vivida em Pelotas, que Lisiane cocriou a ONG Rede de Profissionais Negros, dentro da própria Microsoft, cuja ideia é a inserção no mundo dos negócios por meio de uma rede de cooperação.

Lisiane acredita que a história que construiu pode contribuir para o fim da invisibilidade de negras e negros nos cargos de liderança. “Representatividade. Quando eu entro naquela empresa e estou em algum material, ou falo em nome dela, mostro que existem mulheres negras em posições de liderança e que podem existir muitas mais”, afirma. Atualmente, ela tem investido em palestras focadas no mundo corporativo, trazendo dados, fatos e exemplos sobre tecnologia, diversidade e inclusão, além de participar ativamente do Blacks at Microsoft.

Mas as empresas também têm papel nesse processo de transformação, através da abertura de oportunidades para todas as pessoas. “É preciso repensar os processos de contratação e de treinamento para futuros líderes. Temos muitos talentos que precisam ser incentivados e lapidados e é algo que defendo muito em São Paulo. Quantas ‘Lisianes’ estão escondidas em Pelotas precisando somente de uma plataforma e oportunidade? Precisamos pensar, fazer e sentir diferente”, complementa.

Do sangue a referência
Lisiane sempre foi muito focada e lutou pelo que quis, comenta ao Diário Popular a mãe, professora e coordenadora do Núcleo de Ações Afirmativas e Diversidade da UFPel (Nuaad), Rosemar Lemos. “Minha mãe foi a primeira da família a fazer faculdade. Eu me tornei professora há dez anos. Ela seguiu esse nosso caminho.” Ela descreve também como “lindo, maravilhoso”, ter assistido in loco - ela, o marido Claudinei e o caçula Renan - à filha ser reconhecida como uma das cem pessoas negras com menos de 40 anos mais influentes no mundo.

E Lisiane sabe reconhecer a importância da família nesse processo. “Além de ser meu porto seguro- e eu deveria ter um cartão fidelidade no ônibus Porto Alegre x Pelotas -, eles me ensinam e aprendem comigo. Li uma frase hoje que resume muito meu sentimento: toda família preta é um quilombo. É nesta família que eu aprendo, ensino, alimento meu corpo, minha alma e meu senso crítico. Meu pai é militar aposentado, minha mãe professora universitária e meu irmão, um jovem universitário. São experiências totalmente diferentes, com vivências comuns, como presenciar o racismo de diferentes formas.”

Rosemar relata sentir saudades da filha, que há seis anos deixou Pelotas para morar em São Paulo. Mas como o orgulho é tanto, ela acaba diluída nessa mistura de sentimentos de uma grande mulher olhando sempre por outra grande mulher. “Foi tudo sempre muito difícil, mas ela está onde merece.”

Confira a série
- Sexta-feira, dia 28/2 - Ana Maria Costa, ex-professora
- Sábado e domingo - Delegadas de polícia
- Hoje - Lisiane Lemos, executiva e ativista
- Terça e quarta-feira - Juliana Castro e Ana Carolina Madruga, influenciadoras digitais
- Quinta-feira - Ana Menezes, pesquisadora

 

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

Tornado atinge Alabama deixando rastro de morte e destruição Anterior

Tornado atinge Alabama deixando rastro de morte e destruição

Com chuva, sete escolas do Grupo Especial do RJ deram show na Sapucaí Próximo

Com chuva, sete escolas do Grupo Especial do RJ deram show na Sapucaí

Deixe seu comentário